
Queridos leitores e amigos da Livraria da Praça.
Como todo leitor é fascinado por histórias, este site não estaria completo se não contasse um pouco da minha história com os livros e de como nasceu o projeto da Livraria da Praça.
A Livraria da Praça já foi o meu sonho. Mas esse sonho era distante, etéreo, projetado sempre para o futuro. Então veio a pandemia da Covid-19 e nos forçou a enxergar que o amanhã pode não chegar. Nos mostrou que o mundo é, inevitavelmente, feito da soma das decisões e ações de cada um de nós. E, assim, passei a me questionar se eu estava colocando no mundo o melhor de mim e de qual forma poderia contribuir para a construção de uma sociedade melhor.
Dessa reflexão nasceu a ideia de abrir a Livraria da Praça, tentando fazer com que minha paixão pela leitura, pela literatura, passasse a desempenhar um papel além daquele que desempenhava dentro de mim. Por isso, a Livraria foi pensada para ser muito mais do que um lugar para vender livros: um projeto para formar novos leitores, incentivar a leitura e a escrita, para reunir pessoas, cultivar e divulgar cultura.
Por trás dessa ideia, há – claro! – muitas histórias que acabaram formando minha conexão com os livros e me trouxeram até aqui. Compartilho algumas delas com vocês
Meu pai era fazendeiro, mas tinha uma biblioteca e gostava mesmo era de ler, desenhar, escrever (e, por isso, minhas memórias de infância estão mais ligadas aos livros do que à fazenda). Ele e minha mãe começaram a namorar quando faziam parte do mesmo grupo de teatro. Ele dirigia, ela atuava. Sofreram um acidente de carro indo a São Paulo, onde iam assistir à montagem da peça para a qual estavam ensaiando. Ela se machucou mais do que ele e passou um tempo se recuperando. Ele então passou a visitá-la todas as noites. Levava livros e lia para ela. Eles se apaixonaram e se casaram. Mais tarde, ele foi secretário de cultura e ajudou a viabilizar dois projetos muito importantes e transformadores para nossa cidade: a Casa da Cultura e a Biblioteca Municipal.
Minha mãe é uma contadora de histórias nata. Professora e educadora, dedicou sua vida à educação infantil, e teve as histórias, a fantasia (em todas as suas formas possíveis), como sua maior ferramenta de trabalho. Durante as viagens de carro do fim de semana ou das férias, ela nos distraía pelo caminho inventando histórias.
Quando terminei a faculdade de direito e me mudei para São Paulo (há mais de 20 anos), quem fez a ponte para meu primeiro emprego foi uma cassiense. Ela me contou que gostava de ler desde pequena e meu pai emprestava livros de sua biblioteca para ela. De algum modo, a biblioteca do meu pai tinha contribuído para abrir as portas do mundo para ela. Sua retribuição foi abrir as portas de São Paulo para mim. Essa história até hoje me emociona e me traz a certeza de que bastam pequenos gestos para mudar todo o curso de uma vida.
O desejo de resgatar e honrar essas histórias e influências fizeram com que a Livraria da Praça nascesse em Cássia. Se eu conseguir, através dela, praticar esses pequenos gestos, estimular uma pessoa a voltar a ler ou incentivar o surgimento de um novo leitor, o projeto terá valido a pena e meu coração estará feliz.
Um abraço,
Ana Cândida