A análise de discurso crítica (ADC) propõe um olhar mais atento às ideologias veiculadas e sustentadas pela linguagem, partindo da posição de que a própria linguagem em uso é uma forma de prática social, controlada por grupos que produzem conteúdos e posicionamentos a serem aprendidos e seguidos. Ao fornecer ferramentas para o desvelamento das relações de poder, a ADC postula que as hegemonias são instáveis e passíveis de serem quebradas. O conhecimento produzido pode permitir enxergar a ideologia por trás das crenças, abrindo a possibilidade de uma atitude crítica, propulsora da transformação social. A crítica em ADC caminha em dois sentidos. O primeiro diz respeito ao valor atribuído à ética, à justiça no processo de análise. Tendo um ponto de partida ético, a ADC se volta para a correção de desvantagens sociais, motivo pelo qual busca interpretar esses problemas, posicionando os atores e as instituições, a fim de abordar os fatores condicionantes das situações de desigualdade. Em segundo lugar, o conflito social igualmente exige do(a) analista uma descrição da realidade que promova sua explanação para alcançar a compreensão das articulações ou arranjos sociais que levam à injustiça. A ADC não é neutra. Ela sempre se posiciona criticamente. Em suma, a ADC oferece à ciência social um olhar sobre o papel da linguagem e contribui para a análise linguística com um parâmetro de análise social. Sua proposta é fornecer um arcabouço teórico e metodológico capaz de subsidiar a pesquisa social. Em razão de seu objeto — a linguagem —, ela busca fazer com que os cientistas sociais de diferentes áreas possam dizer algo sobre a linguagem em suas pesquisas, mesmo que não tenham a linguística como foco de seus trabalhos.